Golpe do falso advogado

A epidemia dos crimes digitais no Brasil vem se sofisticando a cada dia, e uma das suas mutações mais perigosas atende por um nome cada vez mais recorrente nos noticiários: golpe do falso advogado. Acima de tudo, explorando dados vazados, redes sociais e um sistema judiciário complexo e mal compreendido pela maioria, criminosos se passam por operadores do Direito para capturar a confiança das vítimas e extorquir dinheiro. Recentemente, o advogado Alex Carvalho Rêgo, conhecido por sua atuação sólida e ética em diversas áreas do Direito, teve seus clientes visados por esse tipo de golpe.

O caso envolveu um farsante que usava a imagem de perfil e o nome do Dr. Alex no WhatsApp, com um número de telefone visivelmente estranho a quem de fato conhece o profissional. O criminoso informava às vítimas que elas teriam valores a receber de processos judiciais já ganhos, e para isso, seria necessário “cadastrar uma conta bancária no sistema do Judiciário” — uma justificativa absurda, mas que, para leigos, soa plausível. Depois de conquistada a confiança inicial, vinha a armadilha: o suposto advogado exigia o pagamento de um valor a título de “Imposto de Renda”, a ser quitado via Pix. O golpe era engenhoso, com uma narrativa convincente e linguagem jurídica fluida.

Por sorte, ninguém caiu. Ao passo que, um dos clientes chegou a enviar R$ 0,01 para registrar a chave Pix usada no crime, o que permitiu ao verdadeiro Dr. Alex reunir provas e registrar boletim de ocorrência. Mais do que um alerta pontual, o episódio escancara a dimensão dessa pandemia digital: golpes cibernéticos, em especial o golpe do falso advogado, estão em franca expansão, e seus alvos estão por toda parte.

O vírus invisível da engenharia social

Golpes digitais não são apenas falhas tecnológicas. Sobretudo, são sintomas de uma fragilidade social explorada com precisão cirúrgica pelos criminosos. Além disso, a principal ferramenta desses golpistas não é um software, e sim a engenharia social: a arte de manipular o comportamento humano com base em informações pessoais, fragilidades emocionais ou até a boa-fé.

O golpe do falso advogado opera sobre essa lógica. Os golpistas estudam suas vítimas. Sabem que boa parte das pessoas mal entende como funciona o trâmite judicial. Usam termos técnicos, criam senso de urgência, citam “prazo de liberação de alvará”, “cadastro de conta na vara de execuções”, e outros jargões para transmitir credibilidade. Em muitos casos, obtêm informações de processos públicos, como valores, nomes das partes ou advogados, para tornar o enredo ainda mais crível.

Diferente dos tradicionais e-mails de nigerianos milionários ou promoções falsas de varejistas, esse tipo de golpe não desperta imediatamente o alerta. Ele é mais sutil, mais pessoal, mais convincente. É uma fraude de segunda geração. E pior: ela se apoia na própria confiança que a sociedade deposita na figura do advogado. O símbolo da lei vira isca para o crime.

Quem são as vítimas? Todos nós

Os alvos desse tipo de golpe são variados. Há os idosos, menos familiarizados com ambientes digitais, que confiam demais em telefonemas ou mensagens com vocabulário técnico. Mas também há vítimas jovens, escolarizadas, pessoas que consideram-se digitalmente bem-informadas. A diferença está, muitas vezes, em um fator humano: a emoção.

Quando o golpista diz “você tem uma quantia de R$ 24.000 para receber, basta informar sua conta”, o cérebro da vítima ativa o modo de recompensa. O raciocínio crítico cede espaço ao impulso. Afinal, quem não gostaria de receber um dinheiro inesperado de um processo que nem lembrava existir?

E há, aqui, um fator cultural que merece atenção. O brasileiro médio tem uma relação ambígua com a esperteza. Existe um traço muito nosso, quase folclórico, de querer “se dar bem”. Essa característica, que em algumas situações pode ser vista como inteligência social, torna-se perigosa quando encontra o terreno fértil da promessa de vantagem fácil. Não é raro que os golpistas usem frases como “isso só está sendo liberado para quem agir rápido” ou “esse dinheiro pode ser bloqueado se não for liberado hoje”. A ansiedade em se antecipar à oportunidade cega a razão.

Na prática, a esperteza dá lugar ao autoengano, e o prejuízo financeiro vem acompanhado da vergonha. Por isso, muitos não denunciam. Preferem o silêncio à exposição da própria falha. O crime, então, prospera.

Por que os golpes dão tão certo?

Não se trata apenas de ignorância digital. Os golpes têm sucesso porque atacam três vulnerabilidades humanas fundamentais: a desinformação, a confiança emocional e o desejo de vantagem.

A desinformação é alimentada por um sistema judicial que é, por natureza, técnico, opaco e muitas vezes ininteligível para o cidadão comum. Advogados sérios sabem o quanto é difícil explicar uma decisão interlocutória ou um despacho de 12 páginas em linguagem acessível. Golpistas, por sua vez, se aproveitam dessa barreira.

A confiança emocional entra quando o estelionatário usa o nome de um profissional confiável, como o Dr. Alex. O cliente lembra do nome, reconhece a foto, e não questiona o número. É uma armadilha construída com base na reputação alheia — uma verdadeira violência simbólica.

O desejo de vantagem aparece como cereja do bolo. Mesmo as pessoas mais críticas acabam reféns da tentação de ganhar algo inesperado. Quando o criminoso diz “é só pagar o imposto e o valor será seu”, ele não está apelando à racionalidade. Está acionando o instinto. E, para muitos, isso basta.

Como se proteger de golpes digitais

O primeiro passo é sempre desconfiar. Advogados não pedem Pix por WhatsApp. Processos judiciais nunca exigem pagamento prévio via chave aleatória. Nenhuma liberação de valores exige “cadastro de conta”. O sistema é burocrático, mas não funciona assim.

Segundo, busque canais oficiais. A OAB tem iniciativas como a plataforma ConfirmADV, que permite verificar se um número ou nome de advogado é real. A consulta de processos pode ser feita diretamente nos sites dos tribunais — nunca por links enviados por terceiros.

Terceiro, fale com seu advogado pessoalmente, ou por telefone que você já conhecia. Se um número novo surgir com pressa ou pedidos incomuns, desconfie. Golpistas evitam o tempo. Querem ação rápida. Se você respirar e aguardar, a farsa desmonta.

Por fim, denuncie. Registrar boletim de ocorrência é essencial. Ajuda a rastrear quadrilhas, bloquear chaves Pix fraudulentas e cria um histórico de casos. Como no episódio do Dr. Alex, o simples envio de R$ 0,01 foi o suficiente para documentar a tentativa criminosa e abrir caminho para a responsabilização.

Considerações finais

O golpe do falso advogado não é apenas um problema jurídico. É um retrato da vulnerabilidade digital de uma sociedade em transição. Vivemos conectados, mas desprotegidos. A linha entre o profissional real e o impostor virtual é tênue. E, no Brasil, onde a cultura da esperteza se mistura com o desejo de ascensão rápida, esse tipo de golpe encontra terreno fértil.

A lição que fica não é apenas sobre segurança digital, mas sobre autocrítica. Precisamos rever nosso próprio comportamento diante de propostas fáceis, lucros rápidos e atalhos sedutores. O preço da esperteza, nesse caso, pode ser alto demais.

Texto preparado por Humberto Gomes, jornalista e perito grafotécnico DRT 6832/DF.

Publicado por Dr. Alex Carvalho Rêgo OAB/DF 32.399

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