A nova face do estelionato digital

Na manhã de hoje, um cliente de nosso escritório nos procurou alarmado. Ele havia recebido, em nome de sua esposa, uma mensagem via aplicativo de mensagens instantâneas supostamente enviada por mim — Dr. Alex Rêgo. O conteúdo fazia referência direta a um processo real e continha detalhes suficientes para, em um primeiro momento, parecer legítimo. O tom da abordagem era urgente, e o remetente solicitava contato imediato para tratar do caso.

Imediatamente identificamos que se tratava de mais um caso do chamado golpe do falso advogado, uma prática criminosa que tem se disseminado com rapidez, valendo-se de dados processuais, nomes reais de advogados e documentos forjados para extorquir vítimas em momentos de vulnerabilidade.

Desta vez, os golpistas foram além: usaram meu nome, minha reputação e referências a processos sob minha responsabilidade para tentar induzir o cliente ao erro. Felizmente, a tentativa foi frustrada — mas serve como sinal inequívoco de que a fraude está atingindo diretamente escritórios, clientes e operadores do Direito.

Por isso, redigi este artigo não apenas como um advogado que atua diariamente em defesa de seus constituintes, mas como um cidadão preocupado com a escalada dessa nova modalidade de estelionato digital. Meu objetivo aqui é orientar, prevenir e alertar: o cuidado com contatos recebidos deve ser redobrado, mesmo quando aparentemente vêm de fontes confiáveis.

A seguir, explico como esse tipo de golpe é estruturado e ofereço um conjunto de recomendações práticas para que você e sua família não se tornem a próxima vítima.

O Golpe do Falso Advogado

O avanço da tecnologia deveria nos aproximar da Justiça. Mas, como toda ferramenta poderosa, também atrai oportunistas. Uma das fraudes mais sofisticadas da atualidade, o golpe do falso advogado, vem lesando cidadãos em todas as regiões do país. Trata-se de um novo tipo de estelionato digital, cuidadosamente arquitetado com base em dados processuais reais e técnicas avançadas de manipulação.

Como advogado atuante há anos, venho acompanhando de perto esse fenômeno. As vítimas, muitas vezes, são pessoas vulneráveis que já enfrentam dificuldades nos tribunais. Quando um criminoso se apresenta como “advogado” com informações detalhadas de um processo, a armadilha parece legítima. E é exatamente aí que o prejuízo começa.

Neste artigo, compartilho orientações práticas para identificar o golpe, proteger-se e — se necessário — agir com rapidez. Meu objetivo é claro: blindar o cidadão contra essa nova modalidade de crime.

Como o golpe se estrutura

O golpe do falso advogado é uma fraude que se alimenta de dados verídicos. A estratégia começa pela coleta de informações públicas de processos judiciais. Golpistas acessam plataformas como PJe, e-SAJ, ou mesmo sites de tribunais. Em alguns casos, usam credenciais vazadas de advogados para acessar informações mais detalhadas.

De posse dos dados — nome das partes, valor da causa, fase processual — os criminosos entram em contato com a vítima, geralmente via WhatsApp. Identificam-se como representantes do escritório responsável, usam o nome do advogado real e até seu número da OAB. Algumas mensagens contêm logotipos, documentos adulterados e fotos de perfis profissionais.

O golpe é finalizado com um pedido de urgência: liberação de alvará, pagamento de custas, taxas judiciais ou impostos. A vítima, confiando no aparente profissionalismo e familiaridade com o caso, realiza a transferência. O dinheiro desaparece em segundos.

Sinais de que você está diante de um golpista

Apesar da sofisticação do esquema, há sinais que merecem atenção. Veja os principais:

  • Contato inesperado: O advogado ou escritório nunca fez contato antes? Desconfie.

  • Tom urgente ou ameaçador: Frases como “você vai perder o processo” são típicas de manipulação.

  • Conta bancária de pessoa física: Nenhum pagamento judicial legítimo é feito via PIX para CPF.

  • Domínio de e-mail gratuito: Evite confiar em e-mails de Gmail, Hotmail ou semelhantes.

  • Rejeição a videochamadas: Golpistas evitam mostrar o rosto ou interações ao vivo.

  • Mensagem fora do horário comercial: Muitos golpes acontecem à noite ou nos finais de semana.

Como se proteger: 10 práticas recomendadas

Como advogado, recomendo estas boas práticas de segurança:

  1. Confirme o número da OAB: Use o site cna.oab.org.br para verificar dados do advogado.

  2. Use a nova plataforma ConfirmADV: Ferramenta oficial para validar contatos advocatícios.

  3. Verifique o telefone e e-mail do escritório: Consulte o site oficial ou redes sociais institucionais.

  4. Nunca pague taxas inesperadas por PIX: Processos judiciais possuem cobranças formalizadas por guias de pagamento.

  5. Evite compartilhar documentos pessoais por WhatsApp: Mesmo que pareça legítimo.

  6. Solicite videochamada antes de qualquer pagamento: Criminosos fogem de interações visuais.

  7. Exija comprovação formal das supostas custas: Com número de processo e autenticação bancária.

  8. Procure seu advogado de confiança: Se já possui defensor, entre em contato diretamente.

  9. Desconfie de promessas de valores liberados: Especialmente se dependem de pagamentos prévios.

  10. Oriente familiares e idosos: Muitos golpes atingem pessoas menos familiarizadas com o sistema jurídico.

O que fazer se você for vítima

Caso já tenha sofrido o golpe, há medidas possíveis:

  • Boletim de ocorrência: Imediato. Prefira a delegacia especializada em crimes cibernéticos ou a via online.

  • Contato com o banco: Solicite o bloqueio da conta ou rastreamento do valor.

  • Registro junto à OAB: Para que a seccional possa investigar e eventualmente identificar uso indevido de dados.

  • Consulta com advogado de confiança: Avalie a viabilidade de uma ação indenizatória ou cautelar.

  • Divulgação responsável: Alertar outras pessoas pode evitar novas vítimas.

O papel da advocacia e da OAB no enfrentamento

A Ordem dos Advogados do Brasil tem se mobilizado para enfrentar essa nova ameaça. O lançamento do sistema ConfirmADV é um passo essencial nesse combate. Escritórios de advocacia sérios também têm reforçado suas medidas de segurança e investido em comunicação clara com seus clientes.

Mas ainda há muito a ser feito. A educação jurídica preventiva precisa alcançar toda a população. A Justiça precisa reforçar as camadas de proteção digital em seus sistemas de consulta processual. E nós, advogados, devemos assumir um papel ativo na orientação de nossos clientes, dentro e fora do tribunal.

Conclusão: tecnologia, confiança e vigilância

A nova face do estelionato digital é traiçoeira, mas pode ser enfrentada com conhecimento, cautela e apoio jurídico qualificado. Ninguém está completamente imune, mas todos podemos estar melhor preparados.

Se você está envolvido em um processo judicial ou conhece alguém em situação semelhante, compartilhe este conteúdo. A informação é, ainda, a arma mais eficaz contra o golpe do falso advogado.

E lembre-se: o advogado que realmente trabalha por você não aparece do nada. Ele acompanha, explica, formaliza — e, acima de tudo, protege.

Retonar ao Início do Blog

Deixe um comentário