Armadilhas bancárias no dia a dia

Nem sempre o golpe vem com ameaça ou falsidade escancarada. No ambiente bancário, há uma prática cada vez mais comum que se disfarça de atendimento personalizado. Trata-se da venda de serviços ou produtos financeiros que não foram solicitados ou sequer compreendidos pelo consumidor. Armadilhas bancárias no dia a dia, onde o gerente, figura que deveria atuar como consultor de confiança, muitas vezes opera como vendedor agressivo, focado em metas e comissões.

O empurrômetro e a venda casada

No cotidiano bancário, muitos consumidores enfrentam práticas abusivas disfarçadas de serviços vantajosos. A linguagem usada é amigável, persuasiva e propositalmente confusa. O objetivo não é informar, mas convencer. E quem paga a conta é o consumidor.

Duas dessas práticas são o empurrômetro e a venda casada. O empurrômetro se manifesta em propostas apresentadas como oportunidades: seguros, pacotes de tarifas, planos de capitalização, consórcios e até mesmo cartões de crédito que o cliente “nem sabia que tinha”.

Já a venda casada é caracterizada quando a aquisição de um produto ou serviço é condicionada à compra de outro, sem que haja opção de escolha para o consumidor.

Quando a “adesão” é induzida

Ambas as práticas são proibidas pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), conforme o artigo 39, inciso I, mas ainda assim, ocorrem disfarçadamente. Por exemplo, um cliente deseja um limite de crédito ou um cartão com melhores condições e, como resposta, recebe a “sugestão” de contratar um título de capitalização. Sem compreender que está comprando um produto financeiro de risco, com carência longa e sem liquidez imediata, ele é induzido a aceitar, acreditando tratar-se de uma poupança mais vantajosa.

O problema agrava-se quando o produto é empacotado com outros serviços. A contratação eletrônica, via app, é usada como prova pela instituição financeira, embora o cliente não tenha recebido qualquer orientação adequada. As telas sistêmicas são apresentadas como verdades absolutas. Mas quem já assinou algo no celular sem ler os detalhes que atire o primeiro boleto.

Os títulos de capitalização são frequentemente apresentados como investimentos seguros, mas, na realidade, oferecem baixa rentabilidade e só são vantajosos em caso de sorteio. Muitos consumidores são levados a acreditar que estão fazendo uma poupança, quando, na verdade, estão adquirindo um produto com características de jogo.

Além disso, é comum que, ao contratar empréstimos ou financiamentos, os clientes sejam obrigados a adquirir seguros ou outros serviços adicionais, configurando venda casada. Essa prática onera o consumidor com custos desnecessários.

Dano moral e reparação como educação institucional

O Judiciário tem sido cauteloso ao deferir danos morais. Entende-se que meros aborrecimentos não justificam indenização. No entanto, quando há desvio de confiança e prejuízo patrimonial decorrente de práticas abusivas, há dano moral configurado. O cliente sente-se enganado, manipulado, tolo. Seu sentimento é de fracasso e vergonha.

A reparação não é apenas um alento individual, mas um aviso à instituição financeira: não se lucra com a boa-fé do consumidor. É uma lição de cidadania econômica. Cada decisão judicial que reconhece a existência do empurrômetro é um pequeno passo para frear esse modelo de exploração travestido de serviço.

Como se proteger dessas práticas

Para evitar cair em contratações financeiras desnecessárias, é fundamental estar atento e bem informado. Ou seja, antes de aceitar qualquer produto ou serviço, questione sua real necessidade e solicite todas as informações por escrito. Leia atentamente os contratos e desconfie de ofertas que pareçam vantajosas demais. Caso identifique alguma prática abusiva, denuncie aos órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, e, se necessário, a Ouvidoria do Banco Central. Lembre-se de que o conhecimento é a melhor ferramenta para proteger seus direitos e seu bolso.

As armadilhas bancárias no dia a dia podem comprometer significativamente a saúde financeira dos consumidores. Práticas como o empurrômetro e a venda casada, embora comuns, são ilegais e devem ser combatidas. Ao se manter informado e vigilante, o consumidor pode evitar prejuízos e garantir que seus direitos sejam respeitados. Em caso de dúvidas ou situações suspeitas, não hesite em buscar apoio dos órgãos competentes e de consultoria jurídica especializada.

Por fim, que este alerta sirva para todos: LEIA com atenção, desconfie de vantagens milagrosas e não hesite em buscar ajuda nos órgãos competentes. O golpe moderno não é feito no escuro, mas na luz fria da tela do seu celular.

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